sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A chuva


The big picture?

Toda vez que ela acordava, a primeira coisa que fazia era olhar para o céu. Não estava claro, não tinha muito sol... Ela acordara cedo. Se bem que é uma grande ironia dizer que ela acordava cedo, já que ela nunca dormia. Eu ria, pois ela dizia que dormir era perda de tempo. "Tenho muitos pensamentos para perder tempo dormindo", costumava dizer. Apesar desses inúmeros pensamentos, eu raramente a via soltar uma frase sobre eles. 

Ela os guardava para si. Era uma solitária. E sabia que cada ponto transmite a dor da alma. Por isso, talvez, não gostasse de expressar sua dor para o mundo. E eu a respeitava, pois ela era (ainda é) uma agradável companheira.

Um dia, ela resolveu andar pelo parque. As roupas eram estranhas para uma simples caminhada: uma blusa num tom vermelho-vivo e, por cima, um sobretudo claro que combinava com o tom louro dos seus cabelos. Ela escutava música nos fones de ouvido. A música era suave, mas triste. Combinava com seu jeito estático de ver as coisas. Sentou-se num banco qualquer. Foi quando algo inesperado aconteceu. Eu a ouvi dizer claramente:

- Nunca vai parar...

Começou a cair uma chuva grossa. Ela não se importou, pois não fez menção de retirar os fones de ouvido. Muito menos de fazer qualquer movimento. Ela apenas deixou gentilmente que o headset repousasse em seu pescoço. O sobretudo claro mudou para uma cor escura. E aconteceu uma pausa. Perfeita. Dolorosa. “Cada ponto é carregado de dor”, pensei. A chuva estava muito forte, mas eu poderia jurar que havia lágrimas em seus olhos quando ela completou:

- ... de cair.

Um comentário:

  1. Danilo, gostei muito... Um texto bastante conciso.
    Siga em nos teus escritos.

    Rogerio Monteiro

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