quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Dúvida




"Preste atenção", era o apelo dele. Ela então acordou do estado que se encontrava. Perguntava-se o que fazia ali e quanto tempo havia perdido. Preocupada, não notou o estado de desespero que ele se encontrava e ele julgou isso como desprezo. Ela levantou-se e ele retraiu a mão que ia em direção aos cabelos dela.

- Consegue escutar esse som? Parou...

Ela fingiu não ouvir e continuou, decidida. Sofreu, pois não ouviu passos atrás de si. "Siga-me", implorava em silêncio, mas ele não saiu do lugar. Estava próximo ao parapeito e ficou olhando o mundo lá fora. "O que será que essas pessoas pensam?", refletiu. Olhou para ela e estendeu a mão:

- Você vem?

Ela parou quando ouviu a pergunta. Olhou para ele e o encarou com uma expressão de medo. O ar estava pesado, faltava fôlego. Ela não queria ser tão definitiva. Não naquele momento. Puxou o ar e sentiu como se agulhas tivessem perfurado o seu pulmão. O som que saiu de sua boca era pungente:

- Quando eu e você viramos nós?

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dor




Revivendo as velhas sensações. Era assim que continuava. Revisitando cada lugar, cada espaço. Agora, a presença dela era quase ausência. O mundo ia passando e ele completamente imerso naquele oceano de torpor. Uma sensação antiga e extremamente familiar.

-  O importante era aquele momento. O eu daquele momento.

As memórias fluíam e o presente estava ali ao lado dele. Minto, pois ele ignorava completamente o presente.  Estava escutando o som do passado e não se preocupava. Ecos de vida. Ecos de existência. Vivia todas aquelas sensações tão... mortas.

Lembrou-se que ela estava ali ao seu lado. Colocou a cabeça em seu ombro. Suspirou.
As pessoas ignoravam aquele som alto. Viver era mais importante.
Mas eles prestavam atenção em cada nota.
Prestam.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Desgosto




Era nítido que ela estava ali. Não poderia simplesmente ignorá-la, não é? Não como ela havia feito... Mas o que fazer? Esperar? De novo?! Calma, esse som não pode ser tão intenso e descompassado... Mas a pergunta ainda era a mesma: o que fazer? Apenas sabia que não consideraria a espera.

- Desligar-se?

Não era vingança? Sempre pensando no que os outros pensariam, mas nunca o admitindo... Andava cansado de dar satisfação e queria apenas desistir. De uma vez por todas. O problema era a expectativa alheia. E doía saber que se fosse embora, ela não sentiria. Sabia que iria sobreviver, pois já passara por isso, mas doía. Ainda dói. Certo?

É por isso que ele sempre entra nessa crescente.
De frases curtas e rápidas. Quase imperativas.
É por isso que ele sugere que o começo sempre mostra o fim e, por isso, nem sempre o final é feliz.
O que o aguarda? Não sabe.
Por ora, apenas o velho som melancólico.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Desdém



Não consegue sentir...?

E naquele momento de desespero, ela surgiu. Com um olhar intenso, um olhar pra dentro da alma. Intrigando-o. Ele esqueceu o que sentia e viveu um pouco de esperança. Era uma batida fraca, que vai e volta, vai e volta... Ela parecia perfeita. As palavras eram sensatas e a sensação era boa.

- Sempre haverá mudança, não é?

Não foi de repente, pois sempre brincou de observar as pessoas e não iria ser diferente com ela. Foi observando que o olhar não era tão intenso, pois andava cega com as pessoas. Almas vazias. A batida continuava fraca. Não ia e voltava, ia e voltava? Sentia... aquele velho gosto amargo.

A velha sensação de antes.

Um som qualquer, acompanhado por um olhar distante.
Um sorriso que desponta no canto da boca.
Esperança? Não existe tal coisa.
Volte pro começo. Ouça bem.
Abrace o som morno.