quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Antes do Fim (I)



- Bom dia.

Ela retribuiu o cumprimento. Ele a envolveu em um abraço e sentiu o perfume dela. O cheiro suave invadiu suas narinas e ele se sentiu feliz. Sabia que era por pouco tempo, sua tristeza habitual logo voltaria e ele seria um intruso naquela casa. Não sabia quanto tempo tinha, mas sabia que isso aconteceria. 

Pronto. Já estava triste novamente.

Essa tristeza só era diminuída na presença da alegria dela. Quando a conheceu, se apaixonou pelo calor do seus sorriso, pelos pequenos gestos de carinho, pela doce melodia saída de sua voz. Sentia-se imensamente feliz quando estava com ela e decidiu que nunca ficaria longe dela. O abraço ficou mais apertado. O abraço do náufrago em sua tábua de salvação. E ficou ali, imerso nos próprios pensamentos, desejando que aquilo nunca acabasse.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A água fria corre sobre a sua cabeça. Ela sente o peso da água e, calada, aceita o castigo. O corpo reclama, mas a mente não se dobra. Gostaria de pensar em milhões de coisas, mas nada vem a mente. Por sinal, o nada é a única coisa que ocupa sua mente. Acostumou-se a ouvir que nada era, então nada se tornou. Disseram que ela nada poderia ter, então nada tinha.

Eu queria dizer a ela que tudo vai mudar. Que ela não precisa se torturar, que ela será alguém. Eu gostaria de vê-la crescer e sair dali, abandonando aquele estado apático. Eu a ajudaria a fazer novos amigos, a tomar novos ares, a encontrar prazer no mundo. Eu queria dizer a ela que tudo isso vai passar.

- Mas não vai.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Recado



Eu não quero que me escrevas
- Cartas mostram intensidade...
Não quero ver tua caligrafia
Nem esperar a visita do carteiro.

Eu não quero que me escrevas 
- Cartas revelam sentimentos...
Não quero ver teus devaneios
Nem decifrar a tua complexa escrita.

Eu não quero que me escrevas
- Cartas são tão pessoais...
Guarda-as no fundo da alma
E amarra-as com um laço de desapego.

E mesmo dizendo que não quero tuas cartas
Insistes ainda em me escrever?
Dou-me por vencido e aceito teu sorriso
Como o mais belo e sincero recado.