domingo, 15 de julho de 2012




Com os dedos suspensos no ar, à espera de uma palavra que o alimentasse. Era assim que ele seguia, andando pelos cantos da forma estranha e habitual. Estava acostumado a observar, embora se proclamasse desligado. Analisava sorrisos e tentava entender o porquê das pessoas serem fascinantes e simplórias. Gostava do que era conceitual, mas a praticidade também o atraía. Tentava entender o que havia por trás de tantos gestos tão cheios de significado. E a vida dele era essa: viver escorado em armários, dizendo palavras que ela jamais ouviria. Sentia-se patético. Perdido. E solitário. Cansava de entender o mundo e seus sinais errados. Alguém poderia dizer para ele desistir, não? Assim ele se sentiria melhor. Não havia ninguém. O frio do quarto o abrigava, mas os dedos - agora inertes - pendiam diante de um doce som de desgosto.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Oxímoro

"Você é como as folhas que se aquecem ao sol...
Eu sou como as raízes que crescem na escuridão."
  
Só sabe andar despreocupadamente e com música nos ouvidos.
- Por acaso, não foi você quem me ensinou isso?
Todos se interessam, todos admiram, todos querem...
Mas todos conhecem?

Só sei andar com a mão nos bolsos e com música nos ouvidos.
- Por acaso, não foi você quem me ensinou isso?
A ninguém interessa, ninguém quer ver, a ninguém...
Por quê?

Como pode algo que expressa ausência ser tão visível?
Uma saudade tão presente...
Que, de alguma forma, me deixou dormente
E me fez mais insensível.

Eu prefiro o abstrato e você, o concreto.
Eu vivo esbarrando no real e você, na fantasia.
Uma cruel ironia entender esse aspecto?
Então saiba que te conto um conto em tom de poesia.

P.s.: Para Jhon. Por seu dia.

O todo, uma parte



Aquela foto nossa tá fora de foco...

Deixou-me perdê-lo.
Deixou-me entendê-lo.

Quando estava perto, consegui olhar para você?
Um dia saberei.

Olhar para trás é abraçar a nostalgia.
Olhar para frente é quase poesia.

Quando estou longe, perco a riqueza do detalhe.
Eu sei disso.

Seria exagero meu
Querer o todo à parte?

E desculpe-me o expressivo
Perdoe-me o passado
Mas querer o futuro
É mais que necessário.

Não quero mais perder você.
Daqui pra frente, só quero te entender.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aspecto



Adeus

Sou ganancioso
Bastante insano
E tão fanático
Que não faço planos.

Eu só destruo
Me desespero
Sou tão vazio
Que nos sacrifico.

Passa-se o tempo
Não sou o mesmo
Já estou sozinho
E cheio de medo.

Com tanta fúria
Quase estou cego
"Não me espere, destino"
Sumirei no tempo.

Estou indo embora
De volta ao início
E por ser instável
Não me despeço.

Destruição



Não deixe-me ficar aqui
Até não existir pedra sobre pedra.

Se tu fizeres isso
Conseguirei recomeçar.

Lance-me um sombrio adeus
Mas nunca um olhar de misericórdia.

Pois recomeçar significa
que um dia entenderei este olhar.

Solidão



Tão definitivo...

Como posso ser dois
E ainda ser tão sozinho?

Sua presença, este momento...
O seu adeus é a resposta perfeita.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Envelhecimento



Sentado nessa cadeira, apenas vejo as horas passando lentamente. Quase como um rei. A diferença é que todos os meus súditos se foram. Não estou lamentando: é a constatação de um fato. O meu jeito analítico afastou as pessoas. Bem sei que elas não tentaram me compreender, mas eu também quis compreendê-las?

É só isso que me resta: uma porção de dúvidas.

Apenas lamento, pois sei que não posso mudar mais nada. Sim, lamento. Pregam que não posso me arrepender, mas lamento profundamente. O passado não me traz boas lembranças e o futuro não é promissor. Então, não há nada que eu possa fazer a não ser lamentar.

Sim, sou amargo. Mas também sou verdadeiro.

Não estarei aqui em breve. E esse breve não me atormenta mais. Então, só te peço um favor: deixe-me apodrecer neste lugar. Eu prometo que não tardará a acontecer. O abraço eventual do destino deve vir em breve...

Há muito tempo para despedidas.
Mas deixe-me dizer adeus.