terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Primavera



"Eu quero que você coloque um sorriso no rosto e a primavera nos passos." 
(Clay Johnson, The Closer)

Ele havia ido embora.

O mundo não era como antes e isso a deixava imensamente feliz.

Ele havia dito que voltaria. E ela sabia que era verdade, pois confiava nele. Ela não havia lhe dedicado paixão ou romance ou fanatismo ou dor ou troca. Havia depositado confiança nele e isso era maior que o seu próprio mundo. Mesmo que voltasse a chover, ela poderia olhar para cima e se sentir abraçada. O amor a libertara para sempre.

O parque estava cheio de sol e seus cabelos loiros brilhavam mais que nunca. Ela se dirigiu à saída do parque, pois estava disposta a abandonar aquele banco para sempre. A partir dali, os pontos não seriam mais tão cheios de dor. Não olhou para trás, mas parou na entrada do parque, sorrindo:

- É assim que é o fim?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Inverno (Prece)

Primavera, vem depressa
                                 Eu não agüento mais chover.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A chuva (Adeus)



“Someone else can come and save me from myself...” (L.P.)

Ele olhou para aquele lugar e sorriu:

- Um pouco bagunçado, não é?

Ela teve tanta raiva, que não olhou mais para ele. Como ele poderia brincar com uma coisa tão séria? Não... Essa não era o verdadeiro motivo para tanta raiva e ela sabia. O parque de outrora era o céu e as nuvens carregadas e densas eram o chão daquele lugar. Continuava chovendo, mas a chuva corria do chão e se encontrava com o parque-céu.

Aquele mundo é que era o motivo do ódio.
Caminhar no vazio era o motivo.

Ele não parecia surpreso ou chateado. Apenas olhava para as árvores e para o banco lá de cima. Perdeu um minuto examinando o local, até que olhou para ela e disse:

- Você confia em mim.

Era uma pergunta? “Não, parece uma afirmação...”, ela refletiu. E teve raiva de tamanha ousadia. Ela não confiava em ninguém, apenas nos seus instintos e até estes se provaram errados ao longo do tempo... Ela não confiava nem em si mesma, eis a grande verdade. Por isso, aquele mundo era daquele jeito.

- Aqui não para de chover... – conseguiu dizer, com algum peso na voz.
- Você continua olhando para o chão. Como vai saber se parou de chover?

A pergunta dele ecoou pela sala. Ela arriscou um olhar para fora e percebeu que a chuva, de fato, havia parado. Olhou para cima, esperançosa, mas a água continuava caindo. Percebeu que chovia apenas naquele espaço onde eles estavam. Lá fora havia sol, havia cor, havia luz. Havia. Sentiu inveja e falou, já sem forças:

- Nunca vai parar...
- Não fale mais isso – ele interrompeu – Nunca mais.

Ela olhou nos olhos dele.

- Por ter confiado em mim, a chuva finalmente vai parar.

Ele prosseguiu:

- O que você precisa é de um pouco de perspectiva...

Ele se afastou um pouco:

- Sabe qual é o grande segredo?

Ela finalmente olhou para o parque. A chuva se misturava com um líquido vermelho lá embaixo. Olhou para ele e percebeu que aquilo escorria das mãos dele. Ele se aproximou e falou baixo no ouvido dela:

- O sangue é mais espesso que a água.

Ele olhou apenas para ela e sorriu.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Inverno (Dúvida)



"Don't put a finger in my heart."
(Frase do volume 51 de Bleach - Love me Bitterly, Loth me Sweetly)

O medo é meu companheiro
Por isso...

Perdão.

Quando vai parar
Com essa forma imprudente de agir?

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O mundo invertido



Cíclico

Ainda fazia sol quando ele entrou no parque. Andou um bocado de tempo, olhando o movimento das pessoas e a alegria do lugar. Levou um guarda-chuva, pois sabia que ia chover.

Era a certeza de quem gostava de olhar para o céu.

E, de fato, começou a chover. Ele abriu o guarda-chuva e encaminhou-se para a saída do parque, mas uma pessoa chamou a sua atenção: aquela moça loira que estava sentada naquele banco. Ela ignorava completamente a chuva. Ele aproximou-se e sentou-se no banco em frente ao dela. Ela apenas sussurrou:

- Esse é o lugar dele.

“Dele ou meu?”, ela pensou. Não conseguia identificar a diferença que havia. Riu de si mesma, pois isso era irônico.

- Oi. Tudo bem com você?

A saudação a embaraçou. Não queria falar com desconhecidos. A experiência anterior não fora satisfatória. Resolveu ignorá-lo, mas isso não o impediu de continuar falando:

- Você não prefere sair dessa chuva? Vai acabar doente...

“Que chato... Ele não cala a boca nunca?”, ela pensou. Ele continuou a falar sozinho por um bom tempo e a analisava, pois achava as pessoas fascinantes. Mais que as nuvens. “Todo mundo tem uma boa história pra contar...”, ele dizia. Continuou falando quando percebeu que havia captado a atenção dela:

- O que você disse? – ela perguntou.
- Ah! Por que você está nessa chuva?

Ela sorriu brevemente. Pensou se deveria... “Será que ele se importa mesmo? É apenas um desconhecido...” Ela estava tão cheia de pontos que um a mais não faria diferença. Resolveu arriscar. Olhou profundamente nos olhos dele e disse pausadamente:

- Já que você quer tanto saber...

Tudo pareceu sair do lugar, mas ele não teve medo.

- Bem vindo...

O mundo estava de cabeça para baixo.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Convite para uma despedida (Ou A chuva, parte 2)


The big picture

Começou a cair uma chuva grossa.

O meu companheiro estava sentado na minha frente.
Parecia que ele estava começando a entender...

Ela não se importou, pois não fez menção de retirar os fones de ouvido. Muito menos de fazer qualquer movimento. Ela apenas deixou gentilmente que o headset repousasse em seu pescoço.

Não quero mais ouvir canções de amor. O adeus havia sido dito naquele banco. Chorei. Eu sei que parece tolo, mas eu prometi que seria sincera. A blusa vermelha que eu uso agora... Eu não deveria...

O sobretudo claro mudou para uma cor escura.

Foi quando o meu companheiro apareceu pela primeira vez. Simpático. Olhos gentis. Levou-me pelo braço e cuidou de mim. Não era um bom ouvinte, mas me distraía. Parecia me conhecer muito bem...

 E aconteceu uma pausa.

O headset na minha nuca forçava-me a olhar diretamente para o meu amigo. Ele parecia abismado, como se nunca tivesse me visto antes. Será...

Perfeita.

Entendo.

Dolorosa.

Ele descobriu.

“Cada ponto é carregado de dor”, pensei.

Que ele e eu somos a mesma pessoa.

A chuva estava muito forte, mas eu poderia jurar que havia lágrimas em nossos olhos quando falamos:

- Nunca vai parar de cair.

Eu estava sozinha mais uma vez.
E havia apenas começado.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O abrigo


“Didn’t want a life without you, but here I am living one...” (Brooke Fraser)

Eu tenho muitos pensamentos. O meu companheiro nem desconfia deles, imagino. Tento esquecê-los, mas eles me invadem e me tiram o sono. Eu sei que parece desculpa para uma fuga... Eu sei que sou solitária. Eu sou uma reclusa. O meu companheiro era a única companhia disponível. Por isso, o surpreendo:

- Vou dar uma volta.

Uma calça qualquer. Um sapato qualquer. A música de sempre.
Mas eu não posso ignorar a blusa dela.

É perfeita para a ocasião. O meu companheiro não me lançou sequer um olhar, apenas me acompanhou. “Ele não sabe mesmo”, rio por dentro. Cubro a blusa com um sobretudo claro e saio de casa. O sol estava mais forte e a nuvem permanecia no céu, mas não quero falar sobre ela. Os meus pés me conduzem para o parque. Há movimento, mas eu estou alheia a tudo. Sento naquele banco específico, onde eu havia me despedido dela para sempre.

Eu sinto falta dela.
Eu sinto falta de como eu era.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A nuvem


Perspective

O sol ainda nem apareceu... Muito cedo, mais uma vez. Sono leve... Não gosto de dormir, acho mais interessante olhar para as nuvens... Elas são calmas, tranqüilas e mudam rapidamente. Gosto desse imprevisto... Também gosto das nuvens porque elas não são definitivas... Elas deixam perguntas no ar...

Não gosto do definitivo.
Do que é certo.
Do que é fiel.
Dói.

Ele está aqui comigo. Um bom companheiro. O único problema dele é não me ouvir. Fico me perguntando se ele sabe quais são os meus desejos, meus pensamentos... Será que ele sabe que cada ponto traduz a dor? Eu falo e ele não ouve, quase preciso gritar...

Vou esquecê-lo por enquanto. Volto para a minha janela, onde um sol fraco aparece. Minha atenção está naquela nuvem... Não, não há nada de especial nela... Tampouco em mim! Perdoem-me a exclamação, mas não sou arrogante. É o costume de todas as manhãs que me traz essa certeza.

A nuvem me diz que o tempo vai mudar.

Mas o tempo não mudou faz tempo?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A chuva


The big picture?

Toda vez que ela acordava, a primeira coisa que fazia era olhar para o céu. Não estava claro, não tinha muito sol... Ela acordara cedo. Se bem que é uma grande ironia dizer que ela acordava cedo, já que ela nunca dormia. Eu ria, pois ela dizia que dormir era perda de tempo. "Tenho muitos pensamentos para perder tempo dormindo", costumava dizer. Apesar desses inúmeros pensamentos, eu raramente a via soltar uma frase sobre eles. 

Ela os guardava para si. Era uma solitária. E sabia que cada ponto transmite a dor da alma. Por isso, talvez, não gostasse de expressar sua dor para o mundo. E eu a respeitava, pois ela era (ainda é) uma agradável companheira.

Um dia, ela resolveu andar pelo parque. As roupas eram estranhas para uma simples caminhada: uma blusa num tom vermelho-vivo e, por cima, um sobretudo claro que combinava com o tom louro dos seus cabelos. Ela escutava música nos fones de ouvido. A música era suave, mas triste. Combinava com seu jeito estático de ver as coisas. Sentou-se num banco qualquer. Foi quando algo inesperado aconteceu. Eu a ouvi dizer claramente:

- Nunca vai parar...

Começou a cair uma chuva grossa. Ela não se importou, pois não fez menção de retirar os fones de ouvido. Muito menos de fazer qualquer movimento. Ela apenas deixou gentilmente que o headset repousasse em seu pescoço. O sobretudo claro mudou para uma cor escura. E aconteceu uma pausa. Perfeita. Dolorosa. “Cada ponto é carregado de dor”, pensei. A chuva estava muito forte, mas eu poderia jurar que havia lágrimas em seus olhos quando ela completou:

- ... de cair.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A canção

Acredito na intensidade das palavras, mas a canção está mais forte. Uma canção tão inadequada... O momento pede outro ritmo, outro tom, outros acordes! Mas teimo em cantar a música errada. É uma canção honesta, cantada em voz pequena e pouco agradável. É uma música que invade a alma e transforma a escuridão do momento em plena luz. Parece um grande clichê, mas a vida continua sendo um conjunto maravilhoso de chavões e lugares-comuns. Mesmo que você não goste. Mesmo que ache a canção boba. E essa canção tem um nome. Chama-se esperança.