quinta-feira, 25 de abril de 2013

Risco




Parou diante da tela branca. Não sabia o que arriscar. Não ainda. Aquela sensação imperceptível e familiar estava presente de novo. Sabia o que viria em seguida: o sublime triunfo, a falta de reconhecimento, o profundo vazio. Insistia naquele hábito, que alguns chamavam hobby. "Arrogantes...". Conhecia os limites de sua própria arrogância, mas odiava vê-los nos outros. Pareciam tão... 

Ilimitados.

Resolveu que ficaria ali sentado até saber o que arriscar. Pensou em diversas estruturas, em diversos conceitos, mas não achou algum que o alegrasse. A satisfação dos outros tempos era imediata, mas agora era fruto de árduo esforço. Trabalhava tal qual um operário. A diferença é que construía um prédio em ruínas, consumido pelo tempo. A poeira se acumulava em seu local de trabalho. Os tijolos eram todos velhos e já sabia como utilizá-los. O tempo diluía o ritmo da construção.

Levantou-se e abriu a janela. O toldo do quintal impedia-o de ver se havia sol. O tempo era frio, costumeiro, quase amigo. Pegou um casaco, desligou o instrumento de obra e saiu do quarto. Parou, por um tempo, diante da porta da sala. Ir lá fora soava como uma excentricidade. Colocou a mão na fechadura e girou a maçaneta. Claridade.

Não sabia o que arriscar.
Não ainda.

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