Ele havia se trancado
há muito tempo. O velho quarto empoeirado era sua grande personalidade e o
vazio, um excelente conhecido. Um conhecido distante, polido... Afável, mas não
amável. Cercava-se de solidão, esperançoso que o tempo lhe providenciasse
misericórdia. “Depois de um tempo, a gente se acostuma...”, era a quase oração
cotidiana. Dançava sozinho, tendo ao seu lado um imenso rosário feito de más
expectativas e sonhos ruins. Rezava para um alguém distante e se sentia
espiritual.
Cansado do imperfeito,
descartou as dores de sempre e andou dois passos em direção à porta. Tímido,
tirou os sapatos e desceu a mão sobre a maçaneta. No estalar de um tempo que
jamais voltaria, a porta se abriu e revelou um clarão que ele nunca imaginou
contemplar.
Deus?! Eu não sei.
Desatou a rir, pois
sabia.