terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O brinde



Ajeitava o nó da gravata quando ouviu a voz da mulher o chamando. O ritual sempre se repetia: a grande festa, os convidados, os aplausos, as notas nas colunas sociais do dia seguinte... Pensou na vida abastada que tinha e um sorriso discreto brotou nos seus lábios. Sabia que era um homem de sorte. Tinha os melhores carros, a melhor casa, a melhor família... Tinha os melhores amigos e gozava de grande prestígio na sociedade.

A vida era boa.

Desceu as escadas e a salva de palmas ressoou no amplo salão. Pegou suavemente na mão da esposa e conduziu os convidados para a sala de jantar. Dirigiu-se ao extremo da mesa, segurou a taça de vinho e preparou o  seu melhor sorriso. Estavam ali amigos, conhecidos, sócios, pessoas importantes e queridas. O anfitrião encarou cada um dos presentes. Todos aguardavam o discurso ansiosamente.

Percebera que não.

Sentou-se e não proferiu uma única palavra. Os convidados se entreolharam, confusos. A mulher apertou a mão dele, esperando alguma resposta. Ele apenas levou o vinho aos lábios e esperou. A vaia dos convivas não tardou. Alguns vociferaram insultos, enquanto outros apenas levantaram-se e dirigiram-se à saída, ultrajados. O gosto rascante do vinho amplificava o som do desgosto que pairava no ar. A esposa do anfitrião não conseguiu conter as lágrimas e foi-se embora, aos soluços. Em pouco tempo, estava completamente sozinho.

Carpe Diem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário