quinta-feira, 8 de março de 2012

Allegro



Nunca se sentiu pequeno diante do piano. Agora não o via como um mero instrumento de trabalho. 
Era como um amigo pra quem ele havia esquecido de dizer adeus. 
Aproximou-se dele e deslizou os dedos pelas teclas, suavemente. Pensou em tocá-lo, mas...

"Como poderia ele
Tocar uma canção desafinada?"

Ela  estava absorta. Olhava para aquele pássaro insistente e não entendia o porquê dele estar tão distante.
Mas ele era tão belo... Como poderia trazer tanta angústia?
"Será que é porque a angústia não é ele quem traz?", pensou. 

"Como poderia ela
Não mostrar seu coração?"

Levantou-se, pois havia entendido que nunca tocara com tanta perfeição assim.
Chegou à conclusão que era impossível. Não tinha mais motivos para se esconder por tanto tempo. 
Sempre fora um desajustado querendo prever o futuro.
Sempre fora uma deslocada procurando motivos para sorrir.

Ele aproximou-se do piano e tocou o primeiro acorde. Errado.
Ela deu um salto e parou perto dele. Perfeito.

Os dois se encararam e sorriram.
Esse mo[vi]mento feliz.
Allegro.

"O começo é sempre doce.
O começo é sempre suave."

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