terça-feira, 6 de março de 2012

Adagio




"Das mãos dos comuns saem ouro
Das minhas, diamantes..."

Um excelente pianista. Isso era indiscutível. Por isso, talvez, prezasse tanto pela integridade das suas mãos. Não as considerava participantes do seu corpo: eram a sua razão de existir. Mais que ferramentas de trabalho, eram o seu próprio meio. A vaidade lhe tornara daquele jeito, os aplausos eram como água para ele e a necessidade de reconhecimento regia seu comportamento.

Por outro lado, era frio. Completamente alheio ao que acontecia ao seu redor. Não se importava e isso era uma constante. Por isso, baixava os olhos e bocejava com frequência. Parecia arrogante e mal-educado. E era. O não se importar era mais fascinante do que a tola concepção de amor.

"Ele andava com as mãos nos bolsos
E isso era o sinal de sua arrogância..."

Dor.
Rápida.

"Incapacitado de exercer movimentos.", foi o diagnóstico que ouviu. Com um ponto que não deixava dúvidas. Antes, odiava essas dúvidas. Eram sinônimo de fraqueza. O certo é que não havia o que fazer. Apenas esperar e ver para onde o tempo o levaria. E essa espera era uma tortura, pois se mostrava através de um movimento lento... 

Perdão, não tão lento. 
Um adagio.

"O começo é sempre suave
Mas não nesse caso."

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