terça-feira, 25 de agosto de 2015

Confissão

Perdoe-me, padre, porque eu pequei. Sim, não faz tanto tempo desde a última vez que vim, mas sinto que preciso vir toda semana. Já virou costume nas sextas... Enfim, eu tenho roubado. Não, padre, eu nunca precisei roubar nem um centavo na minha vida inteira. Graças a Deus. Ando roubando o direito dos outros. Tô dizendo por aí que os ímpios não têm o mesmo direito que eu, um filho de Deus. Eu sei, padre. Mas eu tô certo, ué. Vai dizer que é certo que esse povo tenha o mesmo direito da gente? Sim, a gente, o senhor também tá nessa. Eu sei, padre. Desculpe. Ah, também ando matando. Sabe aquela puta... Perdão, padre, foi impulso. Sabe aquela mulher que o marido matou de tanto espancar? Eu fui o culpado. Não, padre, eu nunca vi aquela mulher na minha vida. Só que eu vivo dizendo por aí que mulher deve ser submissa, então eu sei que eu a matei. Graças a Deus, minha mulher é submissa. Deus me livre ter que corrigir minha esposa, ainda bem que ela é uma boa serva de Deus. Também fui culpado da morte daquele veadinho da semana passada e pelo filho maconheiro da irmã Solange ter sido preso - coitada, uma irmã tão boa ter um filho marginal daquele. Agora, todo mundo chama maconheiro de usuário. Usuário que vá pro inferno! Perdão, padre. É que ando cansado de destruir tantas vidas. Odiar é uma coisa muito desgastante. Meus filhos têm medo de mim. Às vezes, vejo o diabo nos filhos dos outros. O senhor sabe que ele veio pra roubar, matar e destruir? Mas não nos meus filhos. Eu sei que meus filhos são bons. Eu os criei certo, não criei? Sim, padre, pode perguntar. Amor, padre? Pelo amor de Deus. Só vim em busca de absolvição. Tá certo, padre. Vou rezar cinquenta ave-marias e trinta pai-nossos. Mas não, padre. Não vou parar. Até à próxima sexta.

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