segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O desenho

Silêncio. Olhos fixos na estrada. Estava preocupado em voltar para casa. A viagem lhe parecera mais longa do que o necessário. Teria sido esse o motivo da discussão com a esposa? Não lembrava. Arriscou um olhar para o banco do carona. A mulher parecia cansada. "Essas reuniões familiares me deixam louca!", era o que costumava dizer a ele. Talvez esse tenha sido o motivo? As reuniões que ele também detestava? Olhou pelo retrovisor e admirou a menina que desenhava no banco de trás. O lápis amarelo correndo pelo papel era a única coisa que quebrava o silêncio. A esposa continuava a olhar para a paisagem, desinteressada. Pensou em mil maneiras de pedir desculpas, mas as palavras pareciam insuficientes.

- Papai, papai... Olha! - a voz da filha o tirou do turbilhão de pensamentos.

Levantou os olhos e admirou o desenho simples que a filha fizera. O sol amarelo brilhava em cima de uma casa de proporções monumentais. Árvores e flores. Os três estavam de mãos dadas. Felizes. Percebeu que o motivo da briga não importava. Elogiou o trabalho da filha e sua voz pareceu acordar a esposa da apatia em que se encontrava. Quando ela se voltou no banco para admirar o desenho, não estava ali a mulher cansada da viagem, mas sim a moça de cabelo castanho e sorriso bonito por quem ele se apaixonara. Soltou a mão da marcha e segurou firme a mão da esposa. Havia surpresa no olhar dela, mas o sorriso era radiante. Nenhuma palavra precisou ser dita. 

Tudo ficou impresso naquele desenho.

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