quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Batismo


Seus pés brincavam com a mistura de areia e água. Água fria. Gostava da sensação de leve torpor que invadia o seu corpo. O sol ainda estava fraco, por isso estranhou a súbita vontade de entrar no mar. Quando deu por si, estava com a água pela cintura. O torpor aumentou, mas era agradável e não o incomodou. Continuou seguindo e só parou quando a água estava chegando no nariz. Virou e deixou que seu corpo flutuasse por sobre a água.

E flutuou. Há quanto tempo estava daquele jeito? Minutos? Horas? Perdera a noção do tempo. Boiava apenas e isso era o que importava. O entorpecimento lhe causara o efeito contrário: passou a sentir. Sentir-se, antes de tudo. Pareceu-lhe que o antes era um ilusão e o agora era a verdade. A água tocava o seu rosto e milhões de formigas correram por seu corpo. Sentia  o beijo frio do mar enquanto flutuava sem destino. 

Ouvia um som, isso era certo, Um único som distante. Da arrebentação, talvez? Ou do coração que ainda pulsava nele? Não sabia que som era, mas era um som de vida, de quem era completo e não sabia. Na água, era completo. Ele e o mar eram um, afinal. Eram um templo cheio de vida e som e ar e calor (apesar do frio) e estavam um no outro.

Decidiu voltar. Pôs peso no corpo e decidiu tocar o fundo. Não dava pé. Apesar disso, não houve desespero. Voltou na metade do caminho e pôs-se a dar braçadas inúteis. A areia estava longe e sentiu-se cercado pela imensidão do oceano. O esforço começou a cobrar seu preço e, de repente. se viu sem forças. Sentiu o gosto da água salgada invadir sua boca, enquanto seus pulmões gritavam por ar. A resposta foi mais água. Afinal, a água era tudo e tudo era água, não é? 

Escuridão.

Sentiu que alguém lhe puxava. Voltou aos poucos à medida que abandonava a água. Um grupo de pessoas o observava de cima e um homem de vermelho lhe perguntou:

- Está me ouvindo?

Piscou. Fechou a mão e sentiu a areia úmida entre os dedos.

- Como se sente? - perguntou o homem.

- Infinito. - respondeu.

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