quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Canção de nuvem e areia

Eu escrevo ao grande amor inatingível
Sim, dedico fracas linhas ao idealizado
Os dedos raspam no mistério intocado
Mas é sombra o sentimento intangível

Ainda canto ao grande tempo desperdiçado
Sim, desafino em favor do que é crível
Mas se desfaço a sutileza do atingível
Não corro o risco de soar muito apressado?

Quando a hora é areia e o coração é nuvem
Vê-se a ilusão nos amantes que se abrasam
Mas o som do relógio nos torna pragmáticos
E me constrange soar tão amorosamente ingrato

Que a areia e a nuvem se queiram e se enluvem
Mas é bobagem: opostos apenas se acusam
E hoje não mais faço coro aos gramáticos
Insisto que o tempo é concreto e o amor, abstrato.

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